E o que aconteceu de lá pra cá?
Indiscutivelmente, o conhecimento da genética da FC aumentou muito nos últimos anos. Hoje, são conhecidas mais de 2 mil mutações no gene CFTR! O avanço na tecnologia de sequenciamento genômico permitiu também a democratização dos exames genéticos, e ano a ano aumenta o número de pessoas que sabem as suas mutações. Isso permitiu um maior número de diagnósticos, especialmente naquelas mutações em que não era tão simples a obtenção de diagnóstico por outros exames, e permitiu um melhor aconselhamento genético para o planejamento das famílias.
Todo esse avanço no conhecimento genético também possibilitou o desenvolvimento de novos tratamentos, uma vez que, sabendo o gene alterado, foi possível criar modelos in vivo (animais cobaias) e in vitro (células) com a mutação, testando nesses modelos diferentes terapias. Assim, surgiram novo antibióticos, anti-inflamatórios, mucolíticos, entre outros.
Também foi assim que se realizaram testes utilizando-se a terapia gênica para corrigir o “defeito” no gene. Essa abordagem, que era sonhada por pesquisadores como Francis Collins, que participou do grupo responsável pela descoberta do CFTR, se mostrou muito mais complicada e também muito mais perigosa do que se imaginava. Parecia simples substituir um único gene defeituoso, mas como levar esse gene para dentro das células, “ligá-lo” e fazê-lo manter-se funcionando, tudo isso sem despertar o controle imunológico contra os agentes usados para levar o DNA corrigido para dentro do organismo?
Mesmo com todas as dificuldades, essa abordagem nunca foi abandonada, e o Consórcio de Terapia Gênica da Fibrose Cística segue publicando avanços com diferentes vetores sendo testados. O desenvolvimento de “tesouras moleculares” melhores, como o CRISPR/Cas9, também abre novas possibilidades nesse campo.
Mas o mais empolgante dessa corrida toda foi, sem dúvida, a aprovação em 2015 da primeira droga corretora para o tratamento do chamado “defeito básico” da FC. O “ivacaftor”, inicialmente desenvolvido para tratar pacientes com a mutação G551D, hoje já é usado no tratamento de mais de uma dezena de mutações e também é usado em combinação com o lumacaftor, um potenciador, no tratamento da mutação delta F508.
Hoje, outros corretores e potenciadores vêm sendo desenvolvidos e aprimorados. Outras drogas que atuam inibindo diferentes canais iônicos além do CFTR também estão sendo estudadas, e o objetivo dos laboratórios é encontrar uma droga ou combinação de drogas que sirva ao maior número possível de mutações, com o objetivo de tratar todos os pacientes de FC.
Para quem tem uma doença grave como a FC, parece que a ciência é lenta, mas, se considerarmos as dificuldades tecnológicas envolvidas e olharmos em retrospectiva, veremos que muito foi feito nesses últimos 28 anos. Por isso, o 8 de setembro deve ser visto como uma data de comemoração e de mobilização para que toda essa ciência se transforme em tratamentos acessíveis e disponíveis para as pessoas com FC em todo o mundo!
Por Cristiano Silveira, biólogo, pai de um menino de 13 anos com FC e presidente da Associação Carioca de Assistência à Mucoviscidose, ACAM-RJ (www.acamrj.org.br)
Fonte: http://academia.rederaras.org/index.php/2017/09/05/vem-ai-o-dia-mundial-da-fibrose-cistica/#more-905
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