Natalie tem fibrose cística (FC) e vem treinando há um ano para correr sua primeira maratona para o Cystic Fibrosis Trust. No terceiro post do seu blog ela contou sobre o último capítulo da sua trajetória até a maratona, desde os pesadelos antes da prova até cruzar a linha de chegada.
“Escrevo esse post às 3h da madrugada, já que meus pulmões recusam-se a me deixar dormir. Estão cansados e doem cada vez que mexo na garrafa d’água quente que está sobre meu tórax. Enquanto faço nebulização com soro fisiológico hipertônico entre goles de mel quente com limão, estou satisfeita comigo mesma, e me sinto a pessoa com mais sorte entre todas que já respiraram porque, embora meu corpo anseie pelo sono necessário para funcionar como uma mãe que eu sou, meus filhos estão dormindo profundamente ao meu lado, sabendo que a mãe deles correu uma maratona.
Cruzando a linha de chegada
Eu consegui! Quatro dias atrás, conduzi meu corpo e minha mente por 42 km na Maratona Internacional de Birmingham. Eu quis simplesmente desfrutar a experiência como a minha primeira, tinha a meta de concluir a prova em cinco horas. Sim! Cinco horas correndo! Por isso, quando cruzei a linha em 4 horas 53 min, estava mais orgulhosa que imaginava! Especialmente porque sobrevivi sem bolhas nos pés ou escoriações pelo corpo!
Estes pequenos pulmões com FC me deixaram muito orgulhosa, e se eu pudesse engarrafar o que senti no momento que cruzei a linha de chegada e compartilhar com todos, o mundo seria um lugar incrível!
Estar entre os atletas na linha de partida no Alexander Stadium, olhando para aqueles milhares de corredores à minha volta foi um momento que nunca esquecerei… O fato de ter sonhado com esse dia por tanto tempo e, finalmente, ter realizado este sonho provocou uma série de emoções, como vocês podem imaginar… Eu sabia que precisava ficar focada em meu plano corrida e não podia me deixar levar por dúvidas ou suposições, por isso coloquei os fones de ouvido e me deixei levar pelas minhas músicas, que começou logo com ‘Despacito’. Eu ria sozinha, porque sempre deixo as crianças colocarem as músicas favoritas delas na minha playlist, assim posso dedicar alguns quilômetros à elas, e essa foi a escolha do Preston!
Pude sentir a energia dos corredores ao meu redor e o medo do desconhecido. Mas quando ouvi o tiro simbolizando o momento da largada, naquele exato segundo meu corpo começou a bombear adrenalina e a linha de chegada era a única coisa em que eu eu conseguia pensar.
Sonhos antes da maratona
Antes do dia da corrida, tive muitos sonhos malucos relacionados à maratona, desde dormir demais e perder a maratona, até um em que eu via formigas nos meus treinadores. Outro sonho foi que cortou meu número de peito (aquele que a gente coloca na camiseta para nos identificarem) que eu havia recebido em um milhão de pedaços no dia da prova, por isso fui desclassificada. Também sonhei que fui abandonada em uma montanha e não conseguiria alcançar a linha de chegada! Rs!
Aparentemente isso é normal, mas na noite anterior à corrida, sonhei algo que me transportou para o dia da prova. Um sonho com o amigo que me inspira, Liam McHugh, que dedicou a vida a angariar fundos e realizar campanhas, e que completou 18 maratonas para o Cystic Fibrosis Trust, já que sua linda filha também tem fibrose cística. No meu sonho, Liam correu a maratona comigo, e eu acordei ouvindo as palavras de encorajamento dele de uma maneira tão clara como a luz do dia.
Quando contei ao Liam sobre o sonho, ele me disse coisas que me fizeram chorar. Ele realmente me acompanhou por todo o caminho, disse que não foi um sonho, ele estava correndo a maratona comigo.
Uma equipe incrível
Treinar para maratona foi, sem dúvida, o desafio mais difícil da minha vida. Não só por causa da dedicação total necessária, mas em função do malabarismo com as crianças, como já mencionei. O pequeno, mas apertado, círculo de pessoas positivas que criei ao meu redor para me apoiar, que incluiu Liam, foi a minha equipe. Aqueles que ajudaram a bloquear a negatividade e que mantiveram firme quando eu estava cansada demais para agir, quando eu precisei de apoio na captação de recursos ou para me recuperar nos ataques de saúde ao longo do caminho.
Minha equipe não só estava lá em cada etapa do treinamento, mas também intimamente correu comigo os 42 km. Eu podia escrever todo um blog dedicado a Aaron, chefe da equipe e agora treinador bem sucedido de uma corredora de maratona com FC (acredito que graças a mim, o currículo dele parece mais atraente agora!). Mas a verdade é que ele foi a pessoa que plantou a semente da maratona e que forneceu ferramentas para o meu sucesso.
Conheci muitos profissionais sem instrução na indústria do fitness com pouco conhecimento ou entendimento da fibrose cística. Fui menosprezada pela ignorância deles nas academias e nas aulas, porque eles me julgaram pela minha tosse ou por minha má postura. Eles tiveram medo quando pedi que exigissem mais de mim, em vez de terem piedade, eu precisava que olhassem além do meu diagnóstico.
Além de Aaron e do apoio no centro de treinamento e reabilitação Tier 1, agradeço também à experiente Ann Howgego. Treinar com Aaron é muito cansativo, mas ela levou em consideração a minha necessidade de combinar atividades e entrou com suas animadas aulas de fitness funcional e de pilates de preparação física, que se provaram excelentes para os pulmões e as técnicas de respiração, complementando tudo o que fiz no Tier 1. Com esses dois profissionais, eu jamais falharia, agradeço a ambos por aguentar a minha tosse irritante!
É preciso coragem
Tendo treinado adequadamente, corri forte e estável do início ao fim, sem perna bamba, sem tonturas ou mesmo sem atingir aquele temido ponto de bloqueio de que tanto se fala, e isso porque eu fui treinada para um padrão superior, fui treinada para ser corredora de distância, o que significa que eu nunca parava. Alguns chamam de teimosia, outros de determinação. O que eu sei é que dói treinar para esse nível, mas vale a pena. Fui treinada para ir fundo e para saber que a dor de desistir sempre seria mais profunda que a de ir ao limite para obter sucesso. É preciso coragem e desejo de ser melhor, por isso apenas um por cento da população participa de uma maratona em algum momento da vida.
Muitos me perguntaram sobre a experiência da maratona de maneira geral. Muitas vezes pensei de antemão que descreveria isso como um inferno absoluto! Que teria de falar dos momentos em que desmoronei, chorei e quis desistir.
Mas digo com honestidade que adorei toda a experiência! A atmosfera ao longo do percurso foi diferente de qualquer outra corrida de que participei. Acredito que sorri ao longo de todo o caminho, até o quilômetro 29, quando os pulmões puseram para fora um monte de muco, e o quilômetro 37, quando senti desconforto nos pulmões, e ouvi meu pai dizer: “Nem parece que você está correndo uma maratona, você faz parecer muito fácil” e depois: “Está quase lá, faltam 5 km “. Acredite, quando estiver apoiando um corredor em uma maratona, NUNCA diga que está “quase lá”, porque mesmo quando faltam apenas 400 metros, o corpo não processa essa expressão “quase lá”!
Prove que o diagnóstico estava errado!
Minha maior conquista, desde o primeiro dia de treinamento até o cruzar a linha de chegada foi uma jornada de autodescoberta, e a realização de que tudo é possível. Meu conselho para todos é que persigam seus sonhos, encontrem o que mantém a sua alma viva e com isso sejam versões melhores, mais aptas e mais saudáveis de si mesmos.
Nunca sejam definidos por quaisquer diagnósticos!
Aos meus preciosos bebês, meu mundo absoluto e a razão pela qual dedico meus dias à minha saúde, e também a todos aqueles que lutam contra a FC, esta medalha é para vocês… E não será a última!
Um ano em números:
Para finalizar, meu ano de treinamento para a maratona envolveu aproximadamente:
- 624 horas de treinamento
- 1.280 km de corrida de rua
- 1.800 sopros de inalador
- 2.500 comprimidos de sal
- 6 pares de tênis de corrida
- Somados a 500 lágrimas choradas com mais de mil sorrisos!
E você: qual seu sonho? Para o que está se dedicando? Nunca esqueça: trate-se para viver, e não viva para se tratar.
Fonte: https://www.cysticfibrosis.org.uk/news/natalies-marathon-journey-part-three
Traduzido por Vera Carvalho, voluntária de tradução para o Instituto Unidos pela Vida. Vera é tradutora com especialidade na área acadêmica e científica (carvalho.vera.carvalho@gmail.com).
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Source: Unidos pela Vida